Cientista gera debate ético ao produzir "cerveja vacinal" em cozinha doméstica

Pesquisador usou leveduras geneticamente modificadas para estimular anticorpos contra subtipo de poliomavírus. Foto: Reprodução/Chris Buck/via CNN News Brasil

Chris Buck, virologista de renome dos Institutos Nacionais de Saúde (NIH) dos EUA, está no centro de um intenso debate ético e científico. O pesquisador, conhecido por co-descobrir diversos poliomavírus humanos, desenvolveu em sua própria cozinha uma cerveja artesanal projetada para atuar como uma vacina oral contra o poliomavírus BK.

A iniciativa, detalhada em seu blog pessoal e na plataforma de dados Zenodo, ignora os protocolos tradicionais de ensaios clínicos e levanta questões sobre os limites da autoexperimentação e da segurança biotecnológica.

O experimento é um desdobramento de 15 anos de pesquisas de Buck sobre vacinas injetáveis. A "cerveja vacinal" utiliza leveduras geneticamente modificadas para produzir partículas que mimetizam o vírus. A teoria é que, ao ingerir a bebida, o sistema imunológico seja estimulado a produzir anticorpos.

Após resultados positivos em ratos, Buck e seu irmão consumiram a bebida e relataram um aumento na resposta imunológica sem efeitos colaterais. Buck defende que o método "doméstico" pode baratear custos, acelerar o desenvolvimento de imunizantes e democratizar o acesso à saúde.

A comunidade científica reagiu de forma imediata e contundente ao experimento de Chris Buck. Dois comitês de ética do NIH declararam formalmente que o virologista não possui autorização para conduzir testes de autoexperimentação, prática considerada uma violação das normas de segurança institucional.

Entre as principais críticas, especialistas destacam que o uso de uma amostragem de apenas duas pessoas torna os resultados estatisticamente irrelevantes, impossibilitando qualquer conclusão segura sobre a eficácia ou os riscos da bebida. Além disso, a divulgação de dados em blogs e servidores públicos sem o rigor da revisão por pares é vista como uma grave quebra de protocolo científico. Paira ainda a preocupação de que essa abordagem "faça você mesmo" possa municiar movimentos antivacina, promovendo o consumo de substâncias não regulamentadas e espalhando desinformação sobre o desenvolvimento de imunizantes.

"A burocracia está inibindo a ciência, e isso é inaceitável para mim", afirmou Buck ao portal ScienceNews. O cientista argumenta que, como os ingredientes são "geralmente considerados seguros" (GRAS) pela FDA, a bebida poderia ser classificada como alimento ou suplemento.

Apesar das advertências, Buck mantém sua posição, alegando que o NIH não pode governar sua vida privada. O virologista pretende prosseguir com testes em modelos animais e ampliar o grupo de voluntários para tentar validar a eficácia da levedura.

Até o momento, a cerveja não possui aprovação da FDA para fins medicinais, e especialistas reforçam que qualquer vacina deve passar por fases rigorosas de testes clínicos antes de ser considerada segura para a população.

Fonte: www.cnnbrasil.com.br

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