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| Em suas tentativas de lançar sua IA a Apple está se assemelhando demais com a Microsoft e o Windows Phone. Foto: Ilustração/IA |
A jornada da Apple no campo da inteligência artificial (IA) começa a ecoar, de maneira notável, os desafios enfrentados pela Microsoft com o Windows Phone. Lançado em 2010, o Windows Phone representou uma tentativa da Microsoft de conquistar o público geral no mercado de dispositivos móveis. Diferentemente de seus antecessores, que miravam o segmento corporativo e enfrentaram dificuldades contra rivais como BlackBerry e Palm, o Windows Phone foi concebido para o usuário comum. No entanto, uma série de fatores, como promessas ambiciosas aliadas a uma visão ultrapassada de replicar a experiência do Windows em PCs, e uma loja de aplicativos incipiente, selaram seu destino. Além disso, a disputa de patentes com o Google (após a aquisição da Motorola, posteriormente vendida à Lenovo em 2014) e o desdém do então CEO Steve Ballmer em relação ao iPhone, também contribuíram para o fim do sistema, cujas atualizações de segurança foram descontinuadas em 2019.
A "nova" Siri e os paralelos com o passado
Anos mais tarde, a Apple se vê em uma encruzilhada similar com sua própria incursão na IA. Um relatório recente do The Information, re-publicado pelo Mac Rumors, expõe um cenário de turbulência interna no desenvolvimento da Siri e da Apple Intelligence. A forte cultura de privacidade da empresa, somada a conflitos entre personalidades, tem sido um entrave para o progresso. Ex-funcionários ouvidos pelo The Information descrevem uma cultura organizacional complacente, falta de ambição e uma resistência a riscos no planejamento de futuras versões da Siri.
A Siri, em particular, é vista como uma "batata quente", sendo constantemente transferida entre equipes sem que haja melhorias significativas. Há também relatos de desentendimentos internos sobre salários, promoções, férias e carga horária entre os membros do grupo de IA.
A liderança da Apple demonstrou lentidão em sua reação ao lançamento do ChatGPT pela OpenAI em 2022. Naquela época, John Giannandrea, chefe de IA da Apple, expressou ceticismo quanto ao valor que chatbots como o ChatGPT poderiam agregar aos usuários — uma visão que, com o tempo, mostrou-se equivocada. Em 2023, a gerência da Apple proibiu engenheiros de integrar modelos de IA de outras empresas em produtos finais, permitindo seu uso apenas para comparação com os próprios modelos da Apple, que estavam longe de competir com o ChatGPT.
A Apple chegou a iniciar um projeto, codinome "Link", para desenvolver comandos de voz para controlar aplicativos e concluir tarefas no Vision Pro. Contudo, a maioria desses recursos foi abandonada devido à incapacidade da equipe da Siri de acompanhar as demandas. O relatório ainda sugere que as funcionalidades prometidas para a Siri na WWDC 2024 eram "essencialmente fictícias", causando surpresa não apenas ao público externo, mas também à própria equipe responsável pelo desenvolvimento da Siri. Tal comportamento é atípico para a Apple, conhecida por sua cautela em lançamentos e por apresentar em seus eventos apenas produtos com funcionamento perfeito e que podem ser entregues no prazo.
A visão de Zuckerberg e os desafios de hardware da Apple
Mark Zuckerberg, CEO da Meta, provocou um debate ao afirmar no podcast de Joe Rogan que "Steve Jobs inventou o iPhone, e agora eles estão basicamente parados nisso, 20 anos depois". Para ele, a fronteira entre o "mundo físico e o digital" já não existe mais.
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Para Zuckerberg a Apple parou no tempo. Foto: David Paul Morris/Bloomberg |
Desde 2023, a Apple tem adiado o lançamento de novas funcionalidades da Siri prometidas para o mesmo ano. Curiosamente, a empresa, como reporta a revista exame, não para de veicular campanhas publicitárias que enfatizam a ainda inédita Apple Intelligence.
Até o momento, nenhuma outra empresa fez promessas tão audaciosas quanto a Apple em relação à IA. No entanto, é inegável que a empresa terá de se apressar, dada a velocidade de avanço da IA e a crescente competitividade do mercado chinês.
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Uma análise do Investe News sobre a situação da Apple com a IA aponta que, embora a empresa seja reconhecida por produzir hardware de excelência, este muitas vezes serve apenas como uma plataforma para produtos de terceiros, como o Google. A demora da Apple na corrida da inteligência artificial pode, a longo prazo, minar a força de seu hardware.
David Yoffie, professor da Harvard Business School e especialista em Apple, descreve a empresa como uma "fast follower" (seguidora rápida) clássica, indicando que ela não será mais uma líder inovadora em praticamente nenhuma área. Embora a vasta base de clientes da Apple confira uma margem de manobra considerável, há um risco real de a empresa ficar para trás.
O potencial da Apple Intelligence: Um futuro promissor (e caro)
Se a Apple conseguir resolver seus desafios internos relacionados à IA, o cenário poderia ser transformador:
- Uma Siri capaz de cumprir todas as promessas de 2023, funcionando como uma fusão entre o ChatGPT e a (ainda não lançada) Alexa+. Ela não apenas responderia a perguntas, resumiria e-mails ou mudaria faixas de música, mas também acenderia luzes, abriria garagens, e, através de óculos de sol da Apple, "veria" o que você vê, fornecendo informações úteis.
- Seu Apple Watch se transformaria em um verdadeiro assistente médico, monitorando a saúde, oferecendo dicas e até mesmo alertando sobre o risco iminente de doenças.
- Quem sabe, um robô humanoide com o logotipo da Apple poderia estar em nossas casas, cuidando da limpeza e organização.
É importante notar que, para viver essa realidade, além da compra dos produtos, seria necessária uma assinatura de US$ 29,99 (cerca de R$ 166,00) mensais para o Apple Intelligence+. Craig Federighi, vice-presidente sênior de engenharia de software da Apple, admitiu que o desenvolvimento dessa tecnologia "ainda levará muitos anos — até mesmo décadas". A expectativa é que esse avanço chegue antes de 2030.
Você acredita que a Apple conseguirá superar esses obstáculos e redefinir sua posição na liderança da inteligência artificial?
Fontes: www.macrumors.com, exame.com, investnews.com.br

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