Rafaela Caldeira, descobriu que foi registrada como desaparecida ao tentar emitir o RG para o seu filho. Foto: Reprodução/Redes Sociais/via UOL |
A personal trainer Rafaela Caldeira dos Reis, de 33 anos, teve uma surpresa chocante ao tentar tirar uma nova carteira de identidade para seu filho, Pedro, de 16 anos. Para sua total incredulidade, ela descobriu que constava como pessoa desaparecida há 15 anos nos sistemas policiais de Belo Horizonte. O mais inusitado é que ela afirma nunca ter sido procurada pela polícia.
A situação bizarra veio à tona no dia 4 de janeiro, quando Rafaela e o filho compareceram a uma Unidade de Atendimento Integrado. Enquanto uma funcionária processava os documentos para a segunda via do RG de Pedro, ela alertou que Rafaela não poderia assinar como responsável. O motivo? Havia um boletim de ocorrência de desaparecimento ativo em seu nome.
"Moça, mas como eu estou desaparecida? Eu estou bem aqui. Ninguém nunca falou que eu estava desaparecida", relatou a personal, em choque, à atendente.
A supervisora do local confirmou o registro e orientou Rafaela a procurar a polícia para resolver a situação. "Saí de lá incrédula. Como assim um boletim de desaparecida? Eu nunca desapareci, nunca nem fugi de casa. Fiquei sem entender", desabafou Rafaela.
O registro de 2010 e a ausência de buscas
Indignada, a personal gravou um vídeo que viralizou no Instagram, atingindo mais de 800 mil visualizações. No mesmo dia, ela se dirigiu à Delegacia Especializada de Pessoas Desaparecidas, onde descobriu que o registro havia sido feito em 2010 pelo seu ex-companheiro e pai de seu filho, com quem ainda se relacionava na época.
Segundo a Polícia Civil de Minas Gerais, o homem relatou na delegacia de Contagem que Rafaela havia saído do trabalho por volta das 23h30 e não havia retornado para casa. Por essa razão, ele decidiu registrar a queixa no dia seguinte.
Apesar da polícia defender que não houve falha ao registrar a ocorrência, o fato de Rafaela nunca ter sido procurada levanta questionamentos. "Fiquei mais chocada ainda porque a polícia nunca veio atrás de mim, nunca tentaram me localizar", explicou a personal.
A Polícia Civil de Minas Gerais não respondeu ao UOL sobre as possíveis tentativas de busca.
Uma vida "normal" em meio ao desaparecimento
O caso de Rafaela, que passou 15 anos com uma vida completamente normal —trabalhando, tirando carteira de motorista e se formando na faculdade— sem que sua condição de "desaparecida" fosse notada, escancara uma falha de comunicação entre os sistemas policiais. O delegado Alexandre Oliveira da Fonseca, da Divisão de Referência à Pessoa Desaparecida, explicou que o boletim só impede a emissão de RG e passaporte, permitindo outros atos.
Rafaela chegou a emitir um novo RG no Paraná após ser furtada. Segundo o delegado, a falta de integração entre os sistemas policiais dos estados brasileiros pode ter sido o motivo para que a ocorrência não fosse identificada na época. A Política Nacional de Busca de Pessoas Desaparecidas de 2019, que previa a criação de um cadastro nacional, ainda não foi totalmente implementada.
O Cadastro Nacional de Pessoas Desaparecidas, lançado em agosto pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública, ainda não tem a adesão de todos os estados, mas é visto como uma esperança para evitar casos como o de Rafaela.
Diante da situação, Rafaela Caldeira dos Reis não consegue deixar de refletir: "Não sei como é o cronograma deles para resolver essas coisas. Mas fiquei pensando quando a pessoa realmente desaparece. Quando eles começam a procurar uma pessoa que realmente desaparece?".