![]() |
O sistema chines possui 30 satelites e tem cobertura global. Foto: GPS e BeiDou/via Poder Aéreo |
Naquele ano, as tensões entre Pequim e Taipé estavam em alta, alimentadas pela proposta do então presidente taiwanês, Lee Teng-hui, de tratar as relações com a China em termos de "Estado a Estado". Em resposta, o PLA conduziu um exercício militar de larga escala, lançando três mísseis no Mar da China Oriental, perto da base militar de Keelung, como um claro aviso a Taiwan. O primeiro míssil atingiu o alvo com precisão, mas os outros dois, misteriosamente, desapareceram do radar.
A análise militar chinesa apontou para uma causa provável e alarmante: interferência dos Estados Unidos no sinal do sistema GPS. Naquela época, a China dependia exclusivamente do GPS, uma tecnologia controlada pelo governo americano, que detém a capacidade de limitar seu uso por razões estratégicas. "Foi uma grande vergonha para o PLA. Aprendemos da pior forma que não podíamos depender de sistemas estrangeiros", desabafou o coronel aposentado, cujo nome não foi revelado. "O Beidou se tornou uma necessidade nacional, não importando o custo."
A partir desse ponto, Pequim investiu pesadamente no desenvolvimento de seu próprio sistema, o Beidou. Atualmente, ele opera com mais de 30 satélites e oferece cobertura global. Curiosamente, a China chegou a considerar a integração ao programa europeu Galileo, mas desistiu devido à lentidão no progresso do projeto.
Desde o início da década de 2010, o Beidou tem sido fundamental tanto para aplicações civis quanto militares. Para o PLA, o sistema representa um pilar estratégico essencial, permitindo a navegação de precisão para aeronaves, navios e mísseis de cruzeiro, mesmo em ambientes de guerra eletrônica, sem qualquer dependência de infraestrutura ocidental.
Analistas são unânimes em apontar que a Força Aérea e a Marinha chinesas são as maiores beneficiadas por essa independência tecnológica. Segundo Andrei Chang, editor da renomada revista Kanwa Defence Review, "o sistema chinês oferece maior confiabilidade e eficácia na navegação e posicionamento das forças armadas", um fator crucial em cenários de conflito.
Hoje, a China também dispõe de outras ferramentas avançadas de rastreamento, como o navio Yuanwang, especializado no monitoramento de mísseis e satélites. Como afirmou o general aposentado Xu Guangyu, com essas capacidades, "os Estados Unidos não têm mais qualquer possibilidade de interferir nas operações do PLA usando o GPS".
A construção do Beidou, um projeto que levou mais de duas décadas e bilhões em investimentos, é vista por Pequim como uma vitória estratégica silenciosa. Nascida de um revés, essa iniciativa se transformou em uma vantagem competitiva inegável em um cenário geopolítico cada vez mais disputado. É um lembrete poderoso de como a adversidade pode ser a mãe da invenção e do avanço estratégico.
Fonte: www.aereo.jor.br