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Leveduras podem transformar urina em matéria-prima para indústria. Foto: Ilustração/Freepik |
Cientistas de universidades americanas desenvolveram uma tecnologia inovadora capaz de transformar urina humana em uma substância biocompatível, ideal para implantes dentários e ósseos. Embora a ideia possa soar incomum à primeira vista, os pesquisadores estimam que essa invenção tem potencial para movimentar uma indústria de US$ 3,5 bilhões até 2030.
Reaproveitar a urina em processos industriais não é novidade, já que ela é rica em nutrientes como nitrogênio e fósforo e já é utilizada em biofertilizantes. No entanto, um estudo recente publicado na Nature Communications propõe algo ainda mais valioso: extrair da urina a hidroxiapatita (HAp), um mineral de fosfato de cálcio que é o principal componente de dentes e ossos humanos.
A hidroxiapatita é amplamente empregada em implantes médicos e até na restauração de artefatos arqueológicos, mas sua produção sintética costuma ser cara e complexa. A nova pesquisa, com colaboração de cientistas dos EUA e do Japão, explorou um sistema sintético de leveduras para mimetizar a produção natural de HAp no corpo humano, feita pelos osteoblastos.
Essas "osteoleveduras" convertem a ureia da urina humana em hidroxiapatita cristalina através de uma reação bioquímica em cadeia, similar à que ocorre nas células que formam nosso tecido ósseo. Os cientistas afirmam que o método pode produzir até um grama de HAp por litro de urina, e o processo de obtenção do mineral leva menos de um dia, demonstrando sua eficiência.
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Material produzido pelas osteoleveduras no estudo. Foto: Reprodução/Isaak E. Müller, Alex Y. W. Lin, Yusuke Otani, Xinyi Zhang/Nature Communications/via Galileu |
David Kisailus, professor da Universidade da Califórnia Irvine e coautor do estudo, explica o duplo benefício da invenção: "Por um lado, ajuda a remover a urina humana dos fluxos de águas residuais, mitigando a poluição ambiental e o acúmulo de nutrientes indesejados; por outro, produz um material que pode ser comercializado para o uso em uma variedade de aplicações."
A utilização da levedura como base para a produção dessa substância biocompatível pode baratear e simplificar os processos industriais, tornando o método acessível inclusive para economias em desenvolvimento. Se essa produção biosintética de hidroxiapatita for escalável e econômica, ela abrirá caminho para alternativas renováveis a materiais como plásticos e outros materiais de construção, tudo a partir da reciclagem de fluidos humanos que, de outra forma, seriam simplesmente descartados.
Fonte: revistagalileu.globo.com