34% adiaram graduação em 2025 devido a gastos com bets, dizem universidades

Apostas online comprometem a entrada e a permanência no ensino superior. Foto: Ilustração/Freepik/rawpixel.com

O cenário educacional brasileiro enfrenta um novo e preocupante desafio: o impacto avassalador das apostas online, como o popular "jogo do tigrinho", no futuro de milhares de jovens. Um levantamento recente da Associação Brasileira de Mantenedoras do Ensino Superior (Abmes), em parceria com a Educa Insights, acende um sinal vermelho ao revelar que 34% dos jovens brasileiros adiaram seu ingresso na graduação por conta dos gastos com essas plataformas.

A pesquisa, que entrevistou mais de 11 mil jovens entre 18 e 35 anos, mostra que o problema é ainda mais agudo em regiões como o Nordeste (44%) e o Sudeste (41%), onde a proporção de jovens que priorizaram as bets em detrimento dos estudos é maior que a média nacional. Preocupa também a disparidade socioeconômica: na classe D e E, com renda familiar média de apenas R$ 1.000, um alarmante 43% dos jovens precisarão parar de apostar para sequer cogitar a universidade em 2026. Em contraste, na classe A, com renda familiar de R$ 26,8 mil, esse percentual cai para 22%. Esses dados sublinham como o vício atinge de forma desproporcional os mais vulneráveis.

O impacto na permanência e a projeção de quase 1 milhão de alunos fora da universidade

O problema das apostas online não se limita à barreira de entrada no ensino superior. A pesquisa revela que 14% dos jovens que já estão na universidade já atrasaram mensalidades ou foram forçados a trancar o curso devido aos gastos com jogos. No Nordeste, esse índice é ainda maior, atingindo 17%.

Para Paulo Chanan, diretor-geral da Abmes, essa realidade é alarmante. "O impacto das bets vai além da captação de novos alunos, afeta a permanência dos que já estão matriculados", afirma. Ele destaca que a crescente popularização das apostas online atinge justamente o público-alvo da educação superior: brasileiros entre 18 e 35 anos. As instituições de ensino superior projetam um cenário desolador: mais de 986 mil potenciais alunos podem ficar fora das universidades porque sua renda já está comprometida com as apostas online.

Muito além da educação: O vício que afeta finanças pessoais e hábitos sociais

Os tentáculos das apostas online se estendem para muito além do setor educacional, comprometendo outras áreas da vida dos jovens. A pesquisa aponta que 24% dos entrevistados deixaram de investir financeiramente em academias ou atividades físicas, e 28% reduziram idas a restaurantes, bares ou saídas com amigos para priorizar o tempo (e o dinheiro) nas plataformas de apostas.

A frequência de apostas também é um dado preocupante: a maioria dos jovens afirmou apostar de uma a três vezes por semana. Essa constatação se alinha com o fato de que as plataformas de bets se tornaram o segundo maior destino da internet brasileira, superando gigantes como YouTube e WhatsApp, e perdendo apenas para o Google. O valor gasto também cresceu: em 2024, 30,8% dos jovens gastavam mais de R$ 350 em média nas apostas, um índice que saltou para 45,3% na edição deste ano da pesquisa.

A CPI das bets e o alerta do congresso

A gravidade do tema mobilizou o Congresso Nacional. O Senado chegou a instalar uma CPI das Bets para analisar a influência das apostas online, o impacto no orçamento dos brasileiros e, crucialmente, na saúde mental. A relatora da comissão, senadora Soraya Thronicke (Podemos-MS), chegou a pedir o indiciamento de influenciadores digitais, incluindo a apresentadora Virgínia Fonseca, embora seu relatório tenha sido rejeitado.

Mesmo assim, a senadora reforça o alerta sobre o avanço do vício em jogos. "Se, por um lado, observamos um crescimento expressivo entre a população mais pobre e vulnerável, por outro, chama a atenção o número crescente de jovens, muitos com acesso à informação e ao ensino superior, que estão sucumbindo ao vício", declarou Thronicke.

Enquanto o debate sobre a legalização de outras modalidades de jogos, como cassinos e jogo do bicho, continua travado no Senado — sofrendo forte resistência da bancada evangélica —, o foco nas apostas online, que já são uma realidade onipresente, se torna ainda mais urgente. A sociedade e as autoridades precisam encontrar mecanismos eficazes para combater o vício e proteger o futuro educacional e financeiro dos jovens brasileiros.

Fonte: educacao.uol.com.br

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