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Data que celebra a expulsão das tropas portuguesas da Bahia em 1823. Foto: Ilustração/Wikipedia |
Nesta terça-feira, 1º de julho, o Governo Federal deu um passo significativo ao enviar ao Congresso Nacional um projeto de lei ambicioso: a transformação do dia 2 de julho no Dia Nacional da Consolidação da Independência do Brasil. Essa iniciativa não é meramente protocolar; ela busca resgatar e oficializar no calendário cívico nacional uma data de imensa importância histórica, que por vezes é ofuscada pelo 7 de setembro.
A essência da proposta reside em homenagear a decisiva expulsão das últimas tropas portuguesas da Bahia, ocorrida em 1823. Esse evento crucial, que selou a soberania brasileira, aconteceu cerca de um ano após o célebre Grito de Independência proferido por D. Pedro I às margens do Ipiranga, em 7 de setembro de 1822. Enquanto o grito simbolizou a ruptura política, a vitória baiana representou a consolidação militar e territorial dessa autonomia.
Atualmente, o 2 de julho já é um feriado estadual na Bahia, celebrando com grande fervor a bravura e a resistência de seu povo. Caso o projeto de lei seja aprovado, essa data passaria a integrar o calendário nacional de feriados, elevando a importância dos eventos baianos para o patamar da história do Brasil como um todo.
Em um vídeo divulgado nas redes sociais, o presidente da República fez questão de sublinhar a relevância dessa medida. Ao lado de figuras políticas proeminentes da Bahia – o ministro da Casa Civil, Rui Costa; o líder do governo no Senado, Jacques Wagner; e o ministro da Secretaria de Comunicação Social, Sidônio Palmeira – o presidente afirmou: “É verdade que D. Pedro fez o grito da Independência, todo mundo sabe disso, mas pouca gente sabe que foi no dia 2 de julho de 1823 que, na Bahia, os baianos conseguiram fazer com que os portugueses voltassem para Portugal definitivamente”. Essa declaração ressalta a necessidade de ampliar o conhecimento sobre a complexidade e a extensão do processo de independência.
O presidente também enfatizou um ponto crítico: a lacuna nos livros didáticos brasileiros em relação a esse episódio histórico. Ele argumentou que o reconhecimento oficial da data não apenas corrigirá essa omissão, mas também ajudará a mostrar o papel central e muitas vezes subestimado do povo baiano na conquista da independência do país. Após o anúncio e a defesa da proposta, o presidente viajou para Salvador para participar das tradicionais celebrações da data e, na quinta-feira, 3 de julho, seguirá para a Cúpula do Mercosul em Buenos Aires.
A luta pela independência na Bahia: Um capítulo essencial
A resistência baiana contra o domínio de Portugal não foi um evento isolado, mas sim uma longa e sangrenta jornada que se estendeu por meses, demonstrando a determinação do povo local. O marco inicial dessa epopeia pode ser traçado a 25 de junho de 1822, na cidade de Cachoeira. Naquele dia, em um ato de grande coragem e autonomia, líderes locais reunidos na Câmara Municipal consultaram a população sobre a adesão ao príncipe regente Dom Pedro de Alcântara, não apenas como governante, mas como defensor constitucional do Brasil. Mesmo sob a ameaça iminente de uma embarcação portuguesa ancorada no Rio Paraguaçu, a resposta popular foi afirmativa, deflagrando um movimento irreversível de rompimento com a metrópole europeia.
Esse episódio audacioso rapidamente desencadeou intensos conflitos armados, com tiroteios que ecoaram por dias. Cachoeira, a vanguarda desse levante, formou um governo provisório, que prontamente recebeu apoio e adesão de outras vilas estratégicas do Recôncavo Baiano, ampliando a base de resistência.
A luta se organizou militarmente, atraindo figuras lendárias que se tornariam símbolos da coragem baiana, como a heroína Maria Quitéria, que se disfarçou de homem para lutar, e o futuro Barão de Belém. No segundo semestre de 1822, com reforços militares enviados do Rio de Janeiro, o cerco à capital Salvador, que ainda estava sob controle português, intensificou-se. A cidade se tornou o palco de batalhas ferozes, como a decisiva Batalha de Pirajá, em novembro daquele ano, que enfraqueceu consideravelmente as forças lusitanas.
A libertação definitiva de Salvador e, consequentemente, da Bahia, ocorreu em 2 de julho de 1823, com a retirada final e humilhante das tropas portuguesas, que já não tinham mais condições de sustentar a ocupação. Essa data, portanto, consolidou não apenas a independência da Bahia, mas também a integridade territorial do Brasil como nação soberana.
Desde então, o 2 de julho é comemorado com grande pompa e civismo na Bahia, simbolizando a participação popular e o heroísmo coletivo no processo de emancipação do Brasil. É um dia para celebrar não apenas a vitória militar, mas também a resiliência e a contribuição de incontáveis indivíduos, cujos nomes, como os de Joana Angélica, Maria Quitéria e o Corneteiro Lopes, estão eternamente gravados na memória da luta pela liberdade brasileira.
Fonte: ultimosegundo.ig.com.br