Estudo com primatas desmonta mito do macho alfa dominador

Achado contradiz argumentos que apresentam o patriarcado humano como um legado dos primatas. Foto: Reprodução/Freepik/wirestock

Uma crença de longa data na biologia de que o domínio masculino é a norma em quase todas as espécies foi desafiada por um novo estudo, indicando que a liderança das fêmeas é muito mais comum e diversificada do que se acreditava. Uma pesquisa, focada na sociedades dos primatas, sugere que as relações de poder entre os sexos são, na maioria das vezes, equilibradas ou complexas, em vez de rigidamente dominadas por um deles.

O estudo, noticiado pela DW, conduzido por pesquisadores da Universidade de Montpellier e do Instituto Max Planck, analisou o comportamento de 253 populações de 121 espécies de primatas. A principal descoberta é que a dominância clara de um sexo é rara. Em mais de 70% das populações analisadas, a diferença de poder entre machos e fêmeas é moderada ou inexistente. A pesquisa também revelou que as brigas entre sexos opostos são surpreendentemente comuns, compondo quase metade das disputas em grupos sociais.

O poder feminino, segundo os cientistas, não se baseia na força física, mas em estratégias alternativas. Ele é predominante em espécies onde as fêmeas são monogâmicas, têm tamanho semelhante ao dos machos ou habitam principalmente árvores. Além disso, a dominância feminina é mais forte em contextos de intensa competição por recursos, onde as fêmeas têm mais autonomia sobre suas escolhas reprodutivas.

Em contraste, a dominância masculina está diretamente ligada à força. Ela é mais comum em espécies terrestres, onde os machos possuem corpos maiores ou "armas" naturais, e onde se acasalam com múltiplas fêmeas. A principal diferença, segundo a pesquisadora Elise Huchard, é que "enquanto os machos obtêm poder por meio da força física e da coerção, o empoderamento feminino depende de caminhos alternativos".

A pesquisa tem implicações significativas para a compreensão das origens das sociedades humanas. Ao demonstrar a variabilidade e a complexidade das relações de gênero em primatas, o estudo questiona a visão tradicional de que o patriarcado humano é um legado evolutivo. Os cientistas argumentam que os humanos não se encaixam no modelo de espécies com estrita dominância masculina, mas sim naquelas com relações mais complexas, nas quais indivíduos de ambos os sexos podem ascender a posições de poder.

Fonte: www.dw.com

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